22 de Julho de 2009
Foi lindo!
Apesar do sonífero ambiente, que se vive, e de toda uma cultura de acomodação à casa, o encontro de poesia e música, da passada Quarta-feira, dia 22.7., tinha sala cheia.
E valeu a pena! Era a evocação da vida e da obra de Sofia de Melo Breyner. E, como há evocações que só podem ser cantadas… foi, verdadeiramente, uma noite de poesia e música muito especial.
Todos, no final, nos sentíamos mais edificados. Satisfeitos! Até porque sabemos que, neste tempo degenerado e perverso de paralisante “comodite cultural caseira”, sair de casa e ir reunir com amigos assim numa tertúlia poética é a melhor forma para se manter uma boa saúde mental.
Cuidemos da nossa saúde!... Oxigenemo-nos em encontros como estes da unicepe.
José Alves Silva - Associado nº 6789
No passado dia 2 fez 5 anos que morreu Sophia de Mello Breiner Andresen.
Em Outubro de 1969, o signatário cumpria o serviço militar obrigatório em Lisboa, na Escola Prática de Administração Militar. Éramos 39 no meu curso.
Devido às eleições que se aproximavam, apenas uma terça parte era autorizada a saír em cada noite. Entre os 26 obrigados a permanecer na caserna, as trocas de ideias eram acesas. Se, ao princípio, um ou outro ainda defendia a nossa guerra em África (para onde era previsível irmos), passados poucos serões já nenhum a defendia, rendidos aqueles poucos aos fortes argumentos dos politicamente mais conscientes.
Fora-nos dito que quem estava recenseado seria autorizado a ir votar à respectiva freguesia. Porém, na véspera, isso foi desdito e só os recenseados em Lisboa poderiam votar. Tal acresceu a tensão acumulada nas semanas de quase total permanência no quartel.
E, para grande surpresa, o dia das eleições, Domingo, 26, amanheceu com as largas dezenas de grandes ávores envoltas em enormes cartazes com o poema de Sophia que abaixo trancrevo (quase de cor, desde essa manhã).
É essa grande poeta que vamos homenagear na próxima Quarta-feira. Prepare alguns seus poemas e venha partilhá-los connosco. A entremear, teremos canções pelo nosso Associado Jorge Gomes da Silva. Divulgue.
Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
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