Noites de Poesia e Música

Manuel Laranjeira


    24 de fevereiro de 2010

    Canções por CARLOS CUNHA.


    No encontro de poesia sobre Manuel Laranjeira, do passado dia 24.2.2010, avivou-se em nós a incomum figura do seu grande amigo D. Miguel de Unamuno. Honra à sua memória!

    Um Homem

    Era o dia 12 de Outubro de 1936. O salão nobre da universidade de Salamanca estava repleto. As mais altas patentes militares e demais autoridades franquistas, ali se juntaram com suas esposas, ao general Franco e sua esposa.

    Celebravam o dia da raça.

    Pouco tempo antes Federico Garcia Lorca tinha sido fuzilado.

    O Reitor da Universidade era, então, o mais prestigiado dos pensadores espanhóis e grande amigo de Lorca: Don Miguel de Unamuno.

    A dada altura o general Millán Astray tomou a palavra. E, logo começou a sua alocução amaldiçoando os “bandos de republicanos e comunistas” que se opunham a Franco intitulando-os de “câncer espanhol”. Prometendo raivosamente que o fascismo “exterminaria aquele cancro passando-os a todos pelas armas” terminando a sua alocução com um “Viva La Muerte!”

    O Reitor escutando aquele slogam desvairado enaltecendo a luta contra a vida, ergueu-se. Virou-se para o general Astray e disse-lhe que não poderia permitir que fossem, uma grande parte dos espanhóis, vilipendiados na sua presença. E que também não aceitaria que em plena casa da sabedoria viessem aclamar a morte, com um “brado necrófilo e insensato”. Atribuindo aquele desvario todo ao facto do general ser um ignorante destituído da “grandeza moral de Cervantes”.

    Ao escutar as derradeiras palavras do Reitor, o general Astray furioso e de pé, fazendo a saudação fascista, bradou: “abajo la inteligencia” complementando com um “viva la muerte”.

    O Reitor virou-se novamente para ele e sem poder conter já a indignação disse-lhe: “este é o templo da inteligência. E eu sou o sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Vencereis porque possuís a força bruta. Vencereis mas não convencereis porque para tanto vos falta a razão, o direito e o poder moral”.

    E no meio de um silêncio constrangedor daquela multidão uniformizada que repentinamente emudecera, o Reitor retirou-se do salão.

    Passados pouco mais de dois meses, a 31 de Dezembro desse mesmo ano de 1936, detido, coberto de humilhações, afundado na maior tristeza, morria também, tal como Federico Garcia Lorca às mãos do fascismo, este outro poeta e figura maior da inteligência mundial: Dom Miguel de Unamuno.




    Fotografias por Ana Almeida Santos




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