2017-05-10, quarta-feira, 19h30: 170º Jantar de Amizade UNICEPE: NAUTOPIAS XXI, por César Príncipe |
O leitor concluirá ao dobrar o cabo da última página: comecei a ler. O autor concluiu: comecei a escrever. Igualmente quantificou o tratável: Um livro de mil páginas é reduzível a cem. Um livro de cem páginas é extensível a mil. O número não faz a obra. A obra faz o número. Igualmente antecipou/numa charge/a corrida aos hipermercados: Estou a escrever num oásis para ser lido num deserto. Igualmente se reviu numa boutade eurocéptica: Em Salónica conheço alguém que me lê./E em Bad Nauheim./Já são dois. (Günter Eich). E achou normal a debandada na estreia de Das Märchen (Emmanuel Nunes), 2007. E considerou/não só lusotípica/como universotípica/a pateada a Manoel de Oliveira: Douro, Faina Fluvial, 1931. E na mesma linha/as pavlovianas cuspidelas em quadros de Amadeo de Souza-Cardoso, 1916. Isto é arte? A cidade sobressaltou-se. E que maravilha: consta que vendeu uma obra. Segundo o artista/a exposição teve 30 mil visitantes. E como mobilizou/há 100 anos/tanta gente culta? Bastou montar o certame no edifício do Cinematógrafo. E bem assim o trato de Rilhafoles conferido às letras/artes de choque/agrupadas na revista Orpheu: bofetada no gosto público para Almada/literatura de manicómio para a douta Imprensa/a sua carteira de títulos/a sua banca de críticos, 1915. E não faltariam exemplos do Index Mercadológico/guardião de regulamentos civis/religiosos/artísticos/científicos/económicos. A Orpheu confrontou-se com o Morpheu: o deus morfínico/amorfo. O que será o gosto/ainda por cima/público? O gosto público não é autofabricado. É induzido/dirigido/ingerido. Geralmente/inclina-se para produtos que compõem o cabaz da pax cultural. Os produtos desinseridos são desafiados a bater-se pela sua quota de visibilidade. Não são filhos naturais das montras. O que até poderá ser auspicioso. As livrarias estão repletas de êxitos. As bibliotecas estão cheias de fracassos. Kosmodron não teve pressa em ser escrito. Não tem pressa em ser lido. O clima de recepção não foi levado em conta no clima de criação. Obras desta tipologia não nascem segundo as regras do consumo/os princípios da boa convivência.
…Kosmodron desconstrói/reconstrói prontuários míticos/constrói uma Dialectologia da Incerteza sobre as Certezas da Teologia. Terrena tragédia/excelsa comédia/mune-se de abecedários teogónicos para efeitos reprojectivos/contranarrativos. Não eleva um protagonista acima do físico nem releva uma causa mágica. O transcendente é a energia por controlar/ignorância por esclarecer. A epopeia é determinada por desencadeamentos cósmicos/terrenos/humanos. Racionaliza as religiões mas não idolatra as ciências. Não legitima entes providenciais/povos eleitos. Recusa a barbárie. Gere um espaço de proscrição/rebelião/ressurgimento. Sustém um clima de Grande Audiência/Cortejo Fúnebre/Insurreição Voluptuosa. Põe à prova uma tábua de potencialidades/alteridades/transformidades/transformalidades. Não se confina à historicidade se(lectiva). Entrecha um Corpus Hermeticum. Não se rende/porém/ao tenebrismo/terribilismo/catastrofismo/tremendismo/ocultismo. Não cavalga a onda milenarista. Contracena em Palcos da Idade da Pedra Electrónica/do Átomo Todo-Poderoso/da Informação Circum-Planetária/da Verdade Irrevelada/do Transe das Utopias.
[540 pág.]
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