Espaço Associados


CARAVAGGIO X 2
Por Roberto Merino



Em agosto, numa breve estadia em Madrid, tive a oportunidade única de contemplar duas obras do grande pintor italiano Michele Angelo Merisi Caravaggio (1571-1610). Como sempre uma visita ao fim da tarde, gratuita, ao Museu do Prado, incluindo inevitavelmente a contemplação das Meninas de Velasquez e as pinturas negras de Goya, peças às quais dedico sempre um momento de observação, procurando novos elementos, novos detalhes, novas impressões.
A pintura Ecce Homo, chamada o Caravaggio perdido, esteve exposta no Museu de Madrid a partir dos últimos dias do mês de Maio até outubro.


“Uma das grandes descobertas da história da arte”: é assim que o museu espanhol classifica o desfecho de três anos de identificação, resgate e restauro de um Ecce Homo do mestre italiano. O Caravaggio perdido está exposto no Museu do Prado, num “acto de generosidade do seu proprietário”, diz o museu e que permitirá a contemplação de “uma das mais valiosas obras de arte antiga do mundo”.
“Nos últimos anos os trabalhos em torno da pintura passaram por várias fases, como detalha a nota agora enviada pelo Prado às redacções. Houve “uma velocidade de consenso sem precedentes na sua autenticação”, diz o museu, e esta é, postula a instituição, “uma das grandes descobertas da história da arte”…
O que se sabe agora é que esta cena terá sido pintada por Michelangelo Merisi (conhecido como Caravaggio) entre 1605 e 1609 e que é uma das 60 obras conhecidas do artista italiano. Terá feito parte da colecção particular do rei Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal). Segundo escreve esta segunda-feira o diário El País, pertencia até ao leilão de 2021 à família do político liberal Evaristo Pérez de Castro; o seu novo proprietário, que empresta agora ao Prado a obra por nove meses, é residente em Espanha e é representado pela Colnaghi. (Galeria de Arte).(Público –Joana Amaral Cardoso- 06/05/24)
O quadro apresenta três figuras, sendo a do primeiro plano Pôncio Pilatos, que apresenta Cristo ao Povo; no centro vemos Cristo em torso nu com a cana nas mãos, enquanto atrás (num efeito de tridimensionalidade) um jovem cobre-o com um manto vermelho.
“Eis o homem”, parece-nos ouvir a frase na boca do governador romano, momento dramático da Paixão narrada no Evangelho de João (19:5).
O Prado descreve a obra como: “um exemplo poderoso do domínio da concepção de Caravaggio: uma composição hábil que apresenta uma cena tridimensional e dinâmica, totalmente inovadora, mas dentro dos limites de uma tradição iconográfica estabelecida”.
Em agosto cumpriu-se um ano da inauguração da Galeria de las Colecciones Reales de Madrid, também numa visita gratuita a partir das 17 horas. Pudemos admirar esculturas, arte decorativa, pintura decorativa, pintura, mobiliário, carruagens de transportes, armaduras e armas de guerra.
“Embora originalmente destinada a exibir tapeçarias e carruagens, o objetivo final é abrigar também objetos de luxo, móveis, esculturas, elementos arquitetônicos, pinturas e outras peças de arte ou história que os vários reis da Espanha têm valorizado ao longo de sua história”.
Na galeria, a contemplação foi a Salomé de Caravaggio. Novamente três figuras em cena, numa perfeita organização e harmonia; em primeiro plano a jovem Salomé, em manto vermelho, segurando nas suas mãos uma bandeja com a cabeça do Baptista, detrás dela surge uma mulher velha, Herodias (?), ambas as figuras fundem-se e compõem um mememto mori, Salomé está condenada à morte pelo obscuro desejo da morte de São João Baptista, finalmente, em esboço ainda vemos um jovem de torso nu, olhando a cena.


A composição das pinturas em Caravaggio responde quase a uma encenação teatral, cénica, dos seus temas; as suas composições cuidadosamente planejadas guiam o nosso olhar de espectador para os pontos de maior significado emocional e narrativo, criando uma experiência visual imersiva.
É talvez por isto que alguns grupos, que podem ser vistos na net, realizam quadros vivos de composição das suas obras. Em maio de 2019, o encenador Ricardo Barceló reuniu cinco talentosos atores que, por meio da expressividade física e facial, das poses e dos trajes, deram vida aos quadros de Caravaggio, intercalando-os entre movimentos delicados e estudados. O espectáculo foi apresentado na Igreja de São Roque, em 2022 voltaram novamente.
“Utilizando técnicas como o tenebrismo, Caravaggio é considerado um dos primeiros artistas a pensar como um fotógrafo.
Há quem diga que o artista é um dos precursores da fotografia, justamente por pensar no enquadramento, contrastes e domínio da luz e por direcionar os olhos do público para áreas de interesse, assim como fazem os fotógrafos contemporâneos. Além disso, há pesquisas e estudos que indicam que Caravaggio utilizava câmaras escuras para ajudar a retratar os modelos e objetos que estava pintando.
A ideia sugerida é que Caravaggio transformou o seu estúdio numa grande câmara escura, utilizando lentes e uma fonte de luz. Quando a luz passava pelos objetos e pela lente, ela incidia sobre uma tela, e funcionava como uma fotografia pela qual o artista se guiava”.

Arte Visual – Caravaggio: Luz, Sombras, Rebeldia e Fotografia
Ontem,4/02/25, quando soube da morte de Maria Teresa Horta, a primeira coisa de que me lembrei foi dos nossos encontros no velho Carlos Alberto, no âmbito do Fantas, e o agradecimento enorme que tenho por Beatriz Pacheco Pereira, Mário Dorminsky, e também do saudoso José Manuel Pereira (os inventores do Fantasporto) pelo facto de me terem possibilitado conviver com uma mulher notável do nosso tempo.

As Três Marias (*), curiosamente no meu país chamamos, com este nome , a constelação do Cinturão de Orion, aquelas três poetas, escritoras feministas, brilhantes numa época obscura, bem merecem uma constelação própria!

Notas: Galería de las Colecciones Reales (anteriormente Museo de Colecciones Reales) es un museo dependiente de Patrimonio Nacional. Tiene su sede en la ciudad de Madrid, en un edificio situado en los jardines del Campo del Moro, junto a la Catedral de la Almudena y al Palacio Real. Galería de las Colecciones Reales – Wikipedia.

(*) O cinturão de Orion e as Três Marias A origem do nome da constelação varia de acordo com a época em diferentes culturas ao redor do mundo. Na mitologia grega, uma das teorias diz que Orion foi colocado pelos Deuses em uma constelação para que não fosse esquecido. Já para os antigos egípcios, o cinturão de Orion representava o local de descanso da alma de Osíris. O mesmo vale para as Três Marias. Na tradição da religião cristã, o trio de estrelas diz respeito tanto às três mulheres que visitaram o túmulo de Cristo na ressurreição, quanto ao conto bíblico sobre os Três Reis Magos, que trouxeram presentes para Jesus após seu nascimento. Na América do Sul, para os guaranis, as Três Marias são Joykexo, símbolo da fertilidade, cuja presença e movimentação nos céus ajudava na orientação geográfica.

Adão Cruz



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