Espaço Associados


Oxalis corniculata
Por Miguel Bioeiro



Foi com inexcedível prazer que participei no 97º Congresso de Esperanto da SAT, realizado no Porto de 5 a 11 de agosto de 2024. A primorosa organização, o encanto de conviver com amigos que professam o mesmo ideal humanista e a beleza da Quinta Juvenil dos Salesianos, onde decorreu o evento, ficarão agradavelmente perenizados na mente deste cronista. Para quem desconhece, convém explicar que a SAT (Sennacieca Asocio Tutmonda), que se pode traduzir por associação mundial independente de nacionalismos, agrega revolucionários que pugnam abnegadamente para influenciar boas relações mundiais e alcançar convivências pacíficas e amistosas no espaço globalizado liberto de belicismos e imperialismos.

Participaram por volta de 80 ativistas oriundos de vários países. Foram proferidas atinentes palestras políticas e ludo-culturais e entoadas cantigas que são verdadeiras armas de intervenção cívica. Bem elucidativas e estimulantes foram ainda as visitas efetuadas na cidade do Porto, mormente à antiga cadeia da PIDE, ao Museu Marítimo de Ílhavo e ao Museu Mineiro de São Pedro da Cova.

No âmbito desta croniqueta botânica, não julgo curial avançar mais na introdução, ciente, contudo, que o memorável congresso da SAT mereceria mais, muito mais, amplas considerações de natureza construtiva.

Entre os congressistas, encontrei gente sensibilizada para a observação da flora, o que ocasionou interessantes debates. Destaco Marcelo Redulez que simpaticamente, acabou por me presentear com um esmerado “dossier” a cores, denominado “Sovaĝaj floroj”, ou seja, “Flores selvagens”. O citado trabalho apresenta centenas de imagens e descrições de plantas obtidas em França, creio que na região de Bordéus. As respetivas flores encontram-se agrupadas consoante as suas cores e muitas delas já constam nas minhas croniquetas de fitoterapia. Dessas, saliento a tanchagem, o lámio, o crisântemo-coroado, a eufórbia, a cangarinha, a alfazema, o linho, a nigela, a onagra, o milfólio, a menta, o dente-de-leão, a malva, o alecrim, a tussilagem, a papoila, o trovisco, o epilóbio, a saponária, o silene, a arméria, a centáurea, o fel-da-terra, a roseira-brava, a erva-de-são-roberto, o loendro, o chorão, o tomilho, o rabo-de-raposa, a dedaleira, o alfinete, as orquídeas, o orégão, a briónia, o morangueiro-silvestre, a angélica, a corriola, o selo-de-salomão, a calaminta, o verbasco, a pervinca, a borragem, o almeirão-silvestre, a consolda, a violeta, a língua-de-vaca, a hera-terrestre, a salva, a luzerna, o funcho, a agrimónia, a urtiga, a tabua, a bardana … uf! Tal lista não é exaustiva, embora pareça, e não segue qualquer ordenação, sendo atabalhoada em mero “vol d’oiseau”. Somente se pretende dar uma ligeira noção da mais valia deste trabalho e suscitar curiosidades. Apresentei as designações portuguesas populares, mas, como é evidente, no texto recebido, as nomenclaturas vêm em latim, francês e esperanto.

Acrescente-se o elucidativo subtítulo escolhido para encabeçar a obra – “Kiam naturo helpas praktiki esperanton kaj reciproke!” Para quem ainda não domina o idioma internacional traduz-se por: “Quando a natureza ajuda a praticar o Esperanto e vice-versa!”. Para além das mencionadas plantas já minhas conhecidas e pormenorizadas nas habituais croniquetas, existem outras mais que nos impelem a demoradas pesquisas. Dessas, simpatizei com uma espécie de trevo de folhas negruscas que às vezes me aparece no quintal e foi assim que acabei por escolher a “Oxalis corniculata para figurar na presente redação.

Trata-se de uma erva anual e por vezes perene, da família das Oxalidaceae, de aparência delicada com talos estreitos e rastejantes que enraízam nos respetivos nós. As folhas são alternas e dividem-se em três folíolos arredondados. As flores, hermafroditas, têm cinco pétalas amarelas, e os frutos, cápsulas que lembram pequenos cornos, chegam a alojar até 14 minúsculas sementes. Estas são expelidas ruidosamente a alguns metros de distância (faculdade de autocoria). O vulgo apresenta vários nomes para esta planta chamando-lhe azeda, canária, trevo, os quais, não adotei por se prestarem a arreliadoras confusões. Para complicar as designações populares, refere-se que existem variedades com flores lilases, rosas ou brancas e a folhagem pode passar do verde-claro ao roxo e até ao negro. Não se conhece verdadeiramente qual a origem regional desta oxalidácea. O que se sabe é que ela se propaga com facilidade e hoje tem uma distribuição cosmopolita, sendo considerada, em muito lado, como erva daninha.

Contudo, detetou-se nela, grande riqueza em vitamina C, possuindo também taninos, cálcio e oxalatos.

É considerada PANC (Planta Alimentícia não Convencional), visto que as folhas são comestíveis, tendo um agradável sabor cítrico. Também as flores e os bolbilhos se podem comer. Colocando as folhas em água aquecida, durante dez minutos, adoçando e arrefecendo em seguida, obtemos uma apreciada limonada. De resto, encontram-se alguns registos para tratamentos tradicionais, atribuindo-se -lhe virtudes anti-inflamatórias, digestivas, diuréticas e antissépticas. Para a ingerir, a despeito do seu excelente paladar, temos que usar de parcimónia pois, em excesso, poderá causar problemas ósseos, devido à existência dos já referidos oxalatos

Setembro de 2024

Miguel Boieiro



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