Não basta os políticos e a igreja dizerem que a solidariedade é um Bem da humanidade e o princípio mais importante do nosso século. Não basta dizerem que continua a haver países mais ricos e outros mais pobres, e dentro dos mais ricos, cada vez maior diferença entre ricos e pobres. Não basta dizerem que a pobreza e a exclusão geram guerras intermináveis. Tudo isto é sabido, e não é cantarolando esta folclórica cantiga eleitoral, que os partidos da máscara e da crença, de mão dada com os senhores da guerra e do dinheiro, levam o povo a qualquer porto seguro. Eles sabem, aliás, que se algum dia o povo chegar a porto seguro, lá se vai a segurança dos que olham a humanidade sentados lá no alto das suas pilhas de cifrões.
Todos sabemos ou deveríamos saber que a miséria social nasce, cresce e se acentua quando se desenvolvem políticas monetaristas doentias, destinadas prioritariamente a reforçar o poder do dinheiro, através de maquiavélicas engenharias económicas que de progresso e desenvolvimento só têm a aparência, através da falácia das predadoras privatizações que mais não são do que o roubo dos bens do povo, através de absurdos superlucros e mais-valias, através do escandaloso caminho aberto para o desvio do que é do povo pelos assaltantes encartados, através das obscenas reformas e prémios de ninhadas de parasitas, da institucionalização do compadrio e do nepotismo, do cancro da corrupção, do esmagamento calculado e programado da qualidade de vida dos cidadãos. Neste mundo absurdo e cruel, circulam mais de quatro triliões de dólares avidamente à procura do sítio onde se lucra mais, nem que esse sítio seja o imenso cemitério para onde resvalam milhões de vítimas.
Maio de 2024
Adão Cruz
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