8. É urgente e decisivo que a Igreja Católica retome o Concílio Vaticano II e se adapte ao Mundo criado pela Revolução Industrial, pela Revolução Francesa e pela Revolução Científica.
Para isso, impõe-se retomar a ideia da colegialidade dos bispos, sendo o Papa o seu primaz, no sentido de colher na maioria expressa pelo seu voto a melhor doutrina, no âmbito da fé, da ética e do compromisso com as sociedades.
Depois, criar uma ideia de colegialidade dos padres, em torno do seu bispo, em assembleias diocesanas.
Finalmente, estabelecer nas paróquias a Fábrica da Igreja com um grupo de leigos que tenha também voto em matéria de gestão dos assuntos correntes e sirva de ligação dos párocos às sociedades paroquiais.
Torna-se urgente reconhecer a igualdade sexual, rever o papel da mulher dentro de Igreja e na sociedade, concebê-la como integrada de pleno direito na vida económica e dar-lhe acesso ao sacerdócio.
Impõe-se uma nova teologia do corpo e da vida, assumindo um pensamento voltado para a felicidade e bem-estar individual, mas sacudindo todas as estruturas de intervenção económica e social, baseadas na “Arte da Guerra” e na agressividade dos mais fortes sobre os mais fracos, na conquista dos bens e das consciências.
Releva-se ainda a ideia do direito à diferença e da alteridade, que deve ser cultivada, em ordem a um novo compromisso que respeite as minorias, como ponto de partida, e que as integre na maioria, como ponto de chegada.
A Igreja Católica tem de habituar-se a respeitar os dados da ciência, assumindo-os como conquistas da Humanidade, e reler o seu discurso de acordo com esses dados.
A Ciência está em vias de confirmar definitivamente a inexistência da dualidade – corpo e alma, o que fará cair por terra a ideia de salvação tal como está definida na teologia; mas pode ir buscar a Theillard de Chardin inspiração para um novo modelo de salvação, afastado do pecado original e colocando a ideia de Deus dentro do Universo.
Como metodologia de acção, a Igreja deve entender-se com as sociedades e seus elementos e não com os governos e os poderosos.
Nesse aspecto, o Presidente do Governo Espanhol, face às pressões da Igreja para não aprovar o casamento de homossexuais, deu uma lição clara: “Não pressionem o Governo que legisla de acordo com a vontade do povo que o elegeu. Convençam o povo da maldade dessa lei e ele exigirá a sua revogação”.
A Igreja tem de acabar com a caridade beata e a exaltação do sofrimento, lutando pelo reconhecimento dos direitos dos desfavorecidos e pelo alívio do seu sofrimento.
A Cruz deve ser um sinal do que se não deseja, e não um objectivo.
Finalmente, a Igreja deve ter um papel semelhante ao Zé do Telhado ou ao Robin Wood: pedir aos que têm a mais, para satisfazer os que não têm nada.
Estou seguro de que Bento XVI já pensou nisto tudo: mas não sabe por onde começar.
E é difícil !
José Vigário Silva – Associado nº 2248
Porto, 2005-05-03
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