Inauguração da Exposição Comercial no recinto do Congresso, antigo Mercado de Dili. Aqui as meninas veem-se com as meninas, os meninos com os meninos, as mulheres com as mulheres e os homens com os homens. Fora isso, namoram. Não sei o que fazem depois de casados, mas raramente andam juntos apesar da alta taxa de natalidade. Passo por uma tenda do Ministério das Finanças que distribui folhetos do último Censo. Cada mulher tem em média 5,7 filhos. Vão cada vez mais à escola, mas na universidade são ainda só um terço. As meninas, na universidade, limpam os sapatos brancos da poeira e andam às duas e três de mão dada. Cantam muito: talvez seja fácil ensinar-lhes poesia assim, porque não conhecem a palavra “Literatura”, nem mesmo na universidade em geral. Todorov tinha razão: não é um conceito universal. É talvez um conceito universitário. É mais fácil por ora falar em “Poema”. “Poema” é mais reconhecido do que “Poesia”: a “Poesia não é uma coisa concreta”, explica-me um aluno detalhadamente. Pouco a pouco tenho de voltar às coisas básicas, não porque sejam simples, mas porque é sempre daí que nasce tudo o mais. Pouco a pouco. Os timorenses vão à praia domingo à tarde, depois da missa, mas só as crianças tomam banho. As mulheres que tomam banho em biquini são malai. Onde é que eu já vivi isto? Talvez porque 70% dos timorenses tem galo e porco em casa, a família humana tem uma continuidade natural nos bichos. “Aman” é tudo o que significa pai. “Inan” é tudo o que significa mãe. “Oan” são os filhos menores.
Pai-galo (“manu-aman”) e mãe-galinha (“manu-inan”). Diak. Ha’u manu-inan, eu sei, Pedro.
“Bibi” é tudo o que é gado caprino. “Bibi-aman”, bode. “Bibi-inan”, cabra, “bibi-oan”, o filho cabrito.
Mas só descobri hoje que os animais também podem ser vistos como vindos de fora. Uma cabra de Timor é uma “bibi-timur”. Se quisermos dizer “ovelha” temos de dizer que é de fora: “bibi-malai”. O mesmo para distingir o búfalo (“karau-timur”) do boi (“karau-malai”). É assim que as coisas são, naturais. Umas vindas de dentro, outras vindas de fora. Eu sou “malai”, venho de fora. É o que as crianças pequeninas dizem quando me veem na rua. Apontam o dedito, riem e dizem:
- Malai! Malai!
E dizemos ambos adeus com as mãos.
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