A economia da língua tétum é fascinante. Se não fosse o Shakespeare, era melhor que o inglês como língua franca. Pensando agora no inglês, no destino do inglês, e porque já não tem sombra de poesia, o destino do inglês bem pode estar evidente no tétum. Quiçá, até, o da língua portuguesa, na próxima reforma ortográfica.
Sobrevive-se também aqui, como em Cabo Verde, com menos 2 letras no alfabeto, o c e o q, substituídas pelo k, sendo o único problema a perda de vitamina s. O h é uma letra útil porque marca aspiração da vogal.
Os substantivos não têm género nem número, nem acordos com os adjectivos ou os verbos, em género ou número.
Os verbos não têm declinação de pessoa ou número. Todas as línguas estrangeiras que queremos aprender deviam ser assim... Os verbos só quase marcam passado, presente e futuro, e mesmo para isso bastam alguns advérbios, como por exemplo, juntar ao verbo a partícula “ona” ou “uluk” (pretérito perfeito e imperfeito) e a partícula “sei” para o futuro.
“Nir aprende direito humanos” está certíssimo.
Em contrapartida tudo tem que ter sujeito, mesmo que esteja indeterminado. E os verbos gostam de advérbios (não há bela sem senão).
Verbos muito importantes:
IHA: ter, haver, existir, conter, etc., mas também significa “em”...
BA: ir, partir, andar, deslocar-se, mas também significa “para”...
Fundamentais são os pronomes pessoais (esses sim, com pessoa, também seria pedir demais):
Ha’u – Eu
O – Tu
Nir – Ele/ Ela
Ami – Nós
Imi – Vós
Sira – Eles/ Elas.
Para fazer os possessivos junta-se ao pronome + nia:
Ha’u nia – Minha
O nia – Tua
E por incrível que pareça: Nir nia – Seu/ Sua
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Termina a lição de tétum com 3 palavras que valem por muitas:
MANU. Quase todas as aves são “manu”: “manu-lin” (pardal), “manu-rade” (pato). Soube hoje, por um folheto do Ministério das Finanças, que a razão porque “galo” se diz só “manu”, é igual à razão porque acordo tão cedo: quase 70% dos timorenses têm galos.
AI. Quase todas as árvores e arbustos são “ai”: “ai-bubur” (eucalipto), “ai-loru” (loureiro). Os autores do dicionários não sabem como traduzir a maior parte deles: são árvores. E eu agora percebo melhor a intemperância dos vocábulos latinos que teve mesmo de usar o Alberto Osório de Castro, quando aqui chegou e escreveu A Ilha Verde e Vermelha. Não consigo saber como se diz “gondões” em tétum, porque os timorenses com quem tenho andado também não sabem o nome de árvore alguma: são árvores, muitas árvores (“ai-leno”, “ai barak”). Em frente à UNTL há três. Mas o meu gondão preferido está no jardim do “Banco da Ásia”.
LIA. O nome de uma aluna. Lia. Quer dizer “palavra”, “conversa”, “linguagem”, “discurso”, “língua/ dialecto”. Dá palavras muito curiosas:
“Lia-foun”: “palavra nova” = novidade.
“Lia-anin”: “palavra-vento” = boato.
“Lia-luruk”: “palavra em monte” = dicionário.
“Lia-nain”: “palavra pelo dono”/ dono da palavra = orador oficial da tribo ou das cerimónias. Quem me dera ser lia-nain. Mas as palavras não são tuas, avisar-me-ia o Jorge...
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