Espaço Associados

Textos de Maria Luísa Malato


       Postais de Dili, 23 de agosto de 2013



Coisas a aprender: falar tétum. Ko’alia Tétum. Um pouco, pouco a pouco. Pode-se falar tétum com alguma facilidade se começarmos pelas fórmulas de cortesia. A cortesia é, meus filhos, a primeira coisa a aprender quando se quer falar com alguém. Confirmo na rua as duas lições que tive de um aluno de Timor, o Xisto:

Bom dia – Bondia,
Boa tarde – Bustárdi,
Boa noite – Bonoite,
Adeus – Adeus,
Obrigado/ Obrigada – Obrigadu/ Obrigada,
Desculpe – Deskulpa,
Peço desulpa – Husu desculpa,
Por favor – Husu favor, Com licensa,
De nada – Nada.

Fácil. O problema vem depois quando nos respondem com uma rajada de tétúm e um sorriso. Abro o meu pequeno manual:

Sim – Sin, mas também se pode dizer Lós
Não– La, Lae (para os verbos e adjetivos), Laos (para os substantivos)
Talvez – Karik

Ora aqui está o que eu quero:

Não entendo: Hau la comprende.

Ainda não é difícil. Mas a conversa pode acabar ali. O problema dos manuais é ensinarem a perguntar o preço das coisas (Ida ne’e hira?), mas depois precisarem dos dedos da mão para saber contar, pelo menos, até dez. Em todo o caso, o corpo é tão importante como a alma. Sem corpo a alma não se desenvolve, que eu acredito catolicamente em Aristóteles, e sem alma o corpo de muito pouco vale. Tenho pois por segundo princípio, meus filhos, que armada de cortesia posso ir até ao fim do mundo. Tentei por isso chegar ao Cristo Rei, a pé, partindo da praia (?) de Lecidere. Quase nenhum malai anda a pé. Quase nenhum timorense anda a pé. Há milhares de taxis amarelos, com tarifa fixa a partir de um dólar, seja lá isso o que for. Milhares de motas e lambretas com uma, duas, pessoas, num máximo duma mãe com três filhos para levar à escola. E carros (aqui diz-se carreta) e forgunetes, quase tudo Toyota, velho ou novo. Ignoro por isso os vendedores de cartões de telemóvel (pulsar), os vendedores de amendoins (forai), de coco (nu), de banana (hudi), de peixes (ikan), ainda quando são crianças ou velhos que os transportam aos ombros numa vara, metodicamente sobrepostos. São eles os únicos que vão andando comigo. E teimam, não entendendo a minha teimosia. Desisto quando chego às camiontetas coloridas (que lembram as Hiaces de Santiago, Celeste) e levam os locais a Los Palos, Viqueque, Baucau ou Manatuto. Rodeiam-me primeiro dois, depois oito condutores que teimam em facilitar-me a viagem ao Cristo Rei. Com o medo (receio...), confundo o Sim com o Não. Que “não” usar do manual: La? Lae? Laós ou Lós? Mal chego a casa, corro a ver o livro. Melhor é seguir o conselho do Xisto a partir de agora:

Sim – Sín

Não – Lae

Com o corpo incisivo, mas sem medo, para que a alma não corra o risco de azedar. É que Síin significa “azedo”. Se há dois ou três sins decisivos na vida, é importante, meus filhos, aprender a dizer não. Lae, obrigadu. Lae, obrigada. No singular ou no plural, que em tétum é o mesmo.

     




Maria Luísa Malato