Espaço Associados

Textos de Maria Luísa Malato


       Postais de Dili, 20 de agosto de 2013



Quando começa uma viagem? Esta começou há muito. Num tempo em que tudo existia pela primeira vez, e eu fixava os olhos numa fotografia de uma casa branca, numa ilha distante. “É a mais distante província portuguesa”. “A ilha é muito montanhosa; o monte mais alto, o Monte Ramelau, atinge três mil metros de altitude, a mais elevada de todo o Portugal”. “A terra é fértil e granjeia-se sem esforço”. “No subsolo há petróleo, ouro e cobre”. E eu, que pouco saía da minha vila de província, imaginava um país que ia até ao fim do mundo. O mundo começava então em minha casa e terminava naquela casa grande e branca, rodeada de palmeiras, tão mais estranha que as cubatas da Guiné, onde os soldados morriam muito, ou das avenidas de Lourenço Marques, onde vivia o meu tio. Mais longe, mais longe ainda, o que era? O que podia ser? Viver do outro lado do mundo e ver o mundo ao contrário, como naquele mapa-mundi que muito depois eu encontrei, em que Portugal se perdia num canto à esquerda, sem vistas para Nova York... Aquela ausência do esforço fascinava-me a mim, que era tão diligente. Aquela riqueza do subsolo surpreendia-me assim, sabida mas por explorar, intocável como um segredo mal guardado.

Cheguei…

     




Maria Luísa Malato