Quando começa uma viagem? Esta começou há muito. Num tempo em que tudo existia pela primeira vez, e eu fixava os olhos numa fotografia de uma casa branca, numa ilha distante. “É a mais distante província portuguesa”. “A ilha é muito montanhosa; o monte mais alto, o Monte Ramelau, atinge três mil metros de altitude, a mais elevada de todo o Portugal”. “A terra é fértil e granjeia-se sem esforço”. “No subsolo há petróleo, ouro e cobre”. E eu, que pouco saía da minha vila de província, imaginava um país que ia até ao fim do mundo. O mundo começava então em minha casa e terminava naquela casa grande e branca, rodeada de palmeiras, tão mais estranha que as cubatas da Guiné, onde os soldados morriam muito, ou das avenidas de Lourenço Marques, onde vivia o meu tio. Mais longe, mais longe ainda, o que era? O que podia ser? Viver do outro lado do mundo e ver o mundo ao contrário, como naquele mapa-mundi que muito depois eu encontrei, em que Portugal se perdia num canto à esquerda, sem vistas para Nova York... Aquela ausência do esforço fascinava-me a mim, que era tão diligente. Aquela riqueza do subsolo surpreendia-me assim, sabida mas por explorar, intocável como um segredo mal guardado.
Cheguei…
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