Espaço Associados



       Migalhas

PÚBLICO -18/02/2010 –pag.38

I – 19/2/2010 –pag.3



“O caminho faz-se caminhando”, escreveu António Machado. Também em Política, na “arte de governar”? Sim, claro. Se bem que, neste domínio, seja fulcral saber o sentido em que se caminha.

No início do percurso, logo então, foi disso bússola quase só a “arte” de mandar, o poder. O poder efectivo que era preciso exercitar e aumentar. O poder potencial que, nas eleições seguintes, fosse como fosse, era preciso não perder.

Mas não se percebeu que a arte de mandar é (deve ser) consequência e não causa da “arte de governar”, que, inexoravelmente, para se saber e dever (bem) mandar, é preciso, antes, saber e dever (bem) governar.

Mas, mais uma vez, foi invertido o caminho da Política, trocando-se as prioridades. A arte de governar pela artimanha da arrogância e a da arte das políticas a (realmente) desenvolver pela da(s) artimanha(s) das promessas, da propaganda e do domínio mediático que, pela urgência do aplauso e pelo retardamento da crítica, era necessário controlar.

Pelo caminho, foi assim ficando por “caminhar” aquilo que da “arte de governar”, deveria ser rastro, a melhoria da quantidade e da qualidade do Emprego, da Educação, da Justiça, enfim, da Vida das Pessoas, numa palavra, da Política. Desse (pouco) caminhar, restam apenas visíveis, e (ainda) com alguma dificuldade (até porque, por definição, muito abstractas e virtuais), algumas estatísticas e “migalhas” tecnológicas. E, aqui e ali, algumas pegadas de avulsas causas.

Há, agora, uma sensação de fim do caminho. Mas, generalizadamente, o ambiente é menos de meta que de fuga (ainda que para a frente), mais de derrota que de glória, mais de “choro” e raiva que de aplauso.

Não surpreende. Porque, como bem canta a Simone (“Migalhas”): “Quem começa o caminho pelo fim, perde a glória do aplauso á chegada”.


João Fraga de Oliveira, Santa Cruz da Trapa