Espaço Associados



       O tamanho da economia

Publicado no PÚBLICO -18/01/2010 –pag.30



Portugal vai crescer este ano. É o que nos garante o Banco de Portugal (BdP). “Vamos” crescer 0,7%. É o que constará do boletim de Inverno do BdP. É, também, o que nos afiança, com confiança, o ministro das Finanças.

Deixemos, pois de lado outras “medições” menos conseguidas (ou, pelo menos, atrasadas,…) do BdP e do governo e demos-lhe algum crédito sobre o “nosso” crescimento em 2010.

Mas, menos especializados em “medições” (muito mais em ser medidos), vamos ter dificuldade em ver, ver mesmo, os tais 0,7% que “cresceremos”. Pela simples razão de que as percentagens, de tão evidentes, podem “cegar-nos”, não nos deixar ver o que realmente interessa ser visto. E, por isso, vamos querer ver, se possível apalpar, qual vai ser, com este crescimento, o “nosso” real tamanho, o tamanho da nossa economia.

É que, admitimos, estamos um pouco desconfiados. Não é só por o boletim do BdP ser o de Inverno (em que há sempre muita água), nem por anteriores falhanços nas “medições” do BdP.

É, essencialmente, porque há outras “medições” afiançadas sobre indicadores de decrescimento, que nos deixam confusos sobre os tais 0,7% do nosso “crescimento”. Por exemplo, o dos salários, o do rendimento disponível, o das desigualdades e, sobretudo, o decrescimento do emprego e consequente crescimento do desemprego..

Ora, são estes indicadores que, nas quatro estações do ano, se vêem na realidade concreta das pessoas, por mais evidentes que sejam as percentagens de crescimento do boletim de Inverno do BdP. E, mais visíveis ainda são as suas expressões e consequências humanas e sociais, a pobreza, o endividamento familiar, a da degradação das condições de trabalho, a quebra de natalidade, a marginalização social.

Será que estes indicadores não fazem parte do conceito de “economia” de que nos falam o BdP e o governo? Duvidamos. Mas, mesmo que assim fosse, integram, sem dúvida, o conceito de (não) desenvolvimento pelo qual poderemos ver, ver mesmo, quanto “crescemos”, qual é, realmente, o nosso “tamanho” humano e social. E, por isso, (realmente) económico.

Porque, quanto à nossa (real) economia, parafraseando o Poeta, somos do tamanho do (desenvolvimento) que vemos e não do tamanho da percentagem de “crescimento” do boletim de Inverno do BdP.


João Fraga de Oliveira - Santa Cruz da Trapa