Espaço Associados



       O que é a Economia?

Público -2671272009 – pag.26



Há dias, eu, pessimista dogmático me confesso, conversava com o meu amigo Zé, que se assume como “realista” mas que eu considero um optimista militante e vice versa.

Nada mais perigoso que uma conversa entre amigos(as), sobretudo entre um pessimista e um optimista. Dessa conversa, a amizade, tanto pode degenerar numa tramóia com presença no DIAP (nunca se sabe se está a ser escutada), numa paixão ou numa eterna zanga.

Pois foi esta última hipótese, uma irreversível quebra de relações, que aconteceu nessa conversa com o meu (ex)amigo Zé (agora, Senhor José).

E, todavia, face ao que está aí na ordem do dia (sucatas, escutas, certidões de manipulações e suas destruições, procurações, justiças supremas e outros temas), o que discutíamos nessa conversa eram questões sem nenhuma importância, a que ninguém liga, enfim, coisas de mera lana caprina.

Dizia eu: em Portugal, há 2 milhões de pobres; a carência de bens essenciais entra já em muitas casas de forma escondida; a natalidade tem diminuído por razões económicas; temos um dos piores sistema de saúde da Europa; há insuficiência de meios e qualidade na educação; o sistema de justiça é um descalabro; somos um dos países da OCDE (o 3º pior) onde mais têm aumentado as desigualdades sociais; muitas empresas lutam com dificuldades e estão na raia da falência; os salários são dos mais baixos da União Europeia; cresce o ataque aos direitos dos trabalhadores e há uma degradação das condições de trabalho; 6 em cada 7 trabalhadores têm trabalho precário; no último ano, desapareceram 180000 postos de trabalho; a taxa de desemprego bate recorde de 23 anos, o desemprego lato atinge 670000 pessoas e em 2010 vai aumentar muito.

E para sustentar isto e impressionar o Zé, acrescentei, como ouço, na TV, aos srs. comentadores: tudo isto são factos insofismáveis. Li tudo isto no PÚBLICO.

Retorquiu-me o Zé: És mesmo um pessimistas ortodoxo e, como diz o primeiro ministro, a pessoas como tu, nunca se viu que criassem alguma riqueza. E acrescentou: por falar em riqueza, têm aumentado os lucros dos grandes grupos económicos; já saímos do estado de recessão; no último trimestre, o PIB aumentou 1,3% e, de Agosto para Setembro, diminuiu a diminuição (?) do investimento de -11,7% para – 9,3%; enfim, há uma melhoria generalizada da Economia. E, respondendo-me taco a taco também no estilo dos mais mediáticos comentadores, atirou-me: tudo isto são factos. Insofismáveis. Li tudo isto no PÚBLICO. Factos são factos. Contra factos, não há argumentos. Por isso, não haveria razões para nos zangarmos. Que diabo! Somos ambos leitores do PÚBLICO. O que motivou a nossa zanga não foram estes (contra)factos mas o facto (mais um facto) de o último facto que ele me apresentou me ter suscitado esta pergunta que o deixou “entalado” e furibundo: Ouve lá ó Zé, afinal de contas, o que é a Economia?O que é a Economia?




João Fraga de Oliveira - Santa Cruz da Trapa