Não é secreto, não há necessidade de escutas nem de espionagem para se saber, por exemplo, que: o desemprego atingiu o valor mais alto dos últimos 26 anos, cada vez há mais precariedade e as condições de trabalho degradam-se, somos um dos países da EU onde os salários são mais baixos e há maiores desigualdades sociais, tem piorado a qualidade da Saúde, da Educação e da Justiça e até o famigerado “défice” voltou a subir para os 8%.
Destas situações, são secretas, isso sim, as soluções políticas, plausíveis e sustentadas. E, por isso, muito carecem estas de ser arguta e aprofundadamente “espiadas”, debatidas, clarificadas pelo poder político (Governo, Assembleia da República, Presidente da República) e pela Oposição. Visando a sua boa resolução.
Entretanto, parece que o que mais tem interessado o poder político, embarcando na onda de outros poderes (o dos tribunais e o da comunicação social) cujas práticas se têm desviado da sua missão social, tem sido: antes das eleições legislativas (e logo após, com o ribombante discurso do PR), o “alegado” (está na moda esta palavra…) “espião político que saiu do quente” do Funchal, com supostas infiltrações “espioneiras” em Belém; agora, a “alegada” política espiã que, por razões de curiosidade não meramente hermenêutica, se terá apropriado de secretismos judiciais com secretíssimos códigos (tipo PT, TVI, etc.).
E o que deixa o cidadão intrigado (mais do que com qualquer trama de espionagem) é que, com tantas questões (ainda) “secretas” (as soluções adequadas para as situações que encabeçam esta carta) que interessa “espiar” e resolver, o poder político e os tribunais (“assessorando” nas “escutas”) nos distraiam, nos mantenham em suspenso (suspensões” são coisa que não nos falta…) com o suspense, primeiro, do “político” espião e, agora, com o da “espiã” política. Ou seja, com a “espionagem política” e o seu contrário.
João Fraga de Oliveira - Santa Cruz da Trapa