“É preciso uma certa violência para se ser competitivo”. “Muitas vezes é preciso ser mau”.
Quem, recentemente, numa televisão (Sic Notícias, 19/02/09), sobre modelos de gestão adoptados nas empresas, proferiu estas frases foi o sr. presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), engº Francisco Vanzeller, o qual, ainda a este propósito, invocou até um pensamento atribuído a Keynes: “O mau é útil, o justo não é”.
“É preciso ser mau”. Meter medo. É um dos referenciais dos modelos de gestão que têm preponderado em muitas empresas e também na Administração Pública.
Por razões partidárias, há dias, falou-se muito de “medo”, a propósito de ameaças de “malhas na direita” (ou seria na esquerda?). Mas, se há domínio onde as malhas do medo tecem a sua teia esse é o domínio do Trabalho.
Há medo no Trabalho quando, no seu trabalho, as pessoas estão expostas a acidentes e a doenças profissionais, à violência psicológica, ao assédio moral, à indignificação.
Há medo do Trabalho quando, por deficientes ou insuficientes informação, formação, organização e meios, têm que se “desenrascar” perante as exigências e contingências desmesuradas de (sobre)intensificação e (sobre)duração do trabalho, de “produtividades” e “flexibilidades” sem limites.
Qualquer um destes “tipos” de medo radica e é potenciado (e, ao mesmo tempo, é induzido) por um outro que, em tempos de precarização do emprego e, agora, de crescente desemprego, tão presente é: o medo de ficar sem trabalho.
Talvez porque esse sentimento de medo é característico, “paira no ar”, do ambiente sociolaboral de muitas organizações, não admira que o medo aí tenha sido, de facto, adoptado como um instrumento de(a) gestão. O que conduz a algo que torna mais perversos os referidos medos: o trabalho pelo medo.
Não apenas agora, sob o espectro da “crise” (da real e da que para tudo é pretexto), mas, há muito, que não é na integração, na formação, na qualificação, nas boas condições de trabalho, no reconhecimento, na participação, na qualidade do emprego, na organização e na inovação tecnológica que assentam os processos de alguns gestores e empresários. Mas, sim, no “se te portas mal levas”, no “ser mau”, no (meter) medo.
Assim, já não é só o trabalho a produzir (o) medo mas o medo a produzir (o) trabalho. O trabalho do medo.
João Fraga de Oliveira – Porto