2006-02-22
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro
Banheiras e fetiches

Creio que todos os escritores têm os seus fetiches, mais ou menos conscientes, mais ou menos inconscientes. Dei-me recentemente conta de que também tenho os meus. Dá-me, vejam só, para meter as minhas personagens em banheiras. Podiam ser polibans, rios, bidés, lavatórios, baldes, bacias, mas não. Não encontro um único bidé, um único lavatório, um único rio (O Tejo não é exemplo) daqueles em que se toma banho, nas coisas que escrevi até hoje.

Encontro as personagens: ou no mar… onde quase afogam, ou em banheiras… onde quase se salvam. As razões são as mais diversas. Desde a mais óbvia e natural que é lavarem-se, até à mais terapêutica e extravagante, que é tirar a febre do corpo, passando pela mais agradável, que é apenas ficar lá: com chocolates, incensos, espuma, argila, óleos, iogurtes, sais, perfumes, velas, música, livros, cigarros, gatos (de vez em quando desequilibram-se e caem, coitados) … sei lá!

Dei-me conta recentemente da compulsividade, ao aperceber-me que estava a preparar-me para meter uma personagem na banheira com… licor! Não é assim! Não pode ser! Uma personagem tem o direito de se preparar, e uma escritora tem o dever de saber dar-lhe tempo. Pois que seja. Até lá, tanta coisa que uma personagem pode fazer, tanta coisa que uma escritora pode escrever… tanta coisa que uma pessoa pode viver… no entanto, eu sei e ela sabe que vai acontecer. Mais dia, menos dia… é só decidir-me por qual o licor! Penso que a dificuldade reside mesmo aí. Mas inclino-me perfumadamente para o licor de anis!
risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/



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