2005-08-24
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro


Mãos de pianista?    



…a propósito do filme: “De tanto bater o meu coração parou”. Identifiquei-me logo com o título. Quando eu era criança, o meu coração batia tanto que eu receava que rebentasse. Ou parasse. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. Aprendeu a acalmar-se a si mesmo. Tinha de ser.

As mãos do protagonista não são mãos de pianista, comentava alguém. De facto não são, ou, pelo menos, não são aquilo que nos acostumámos a considerar mãos de pianista. Estas, são mãos habituadas a segurar matracas e destruir interiores de casas. E no entanto, como se curvam amorosamente sobre o teclado, como voam sobre o balcão do bar, transformado em teclado imaginário….

É a história de um pianista tardio, ou de como as crianças amam eternamente os pais, mesmo quando estes parecem odiá-las (como é o caso deste), mesmo quando pensam odiá-los. .

Neste filme: .

- Despejam-se ratos dentro de prédios para especulação imobiliária.

- Despejam-se pessoas a viver em prédios pela mesma razão.

- Partem-se vidros e outras coisas dentro de prédios por razão igual.

- Estuda-se até à loucura uma partitura de Bach.

- Ameaça-se de morte e se for preciso mata-se, pelas razões acima ou para vingar um pai.

- Serve-se de álibi ao amigo que atraiçoa a mulher.

- Dorme-se com a mulher do amigo.

- Discute-se em francês com a professora de piano que só fala chinês.

Tudo isto, embora pareça impossível, é protagonizado pela mesma personagem. .

Este é um filme onde, mais uma vez, se afirma (e se põe em causa) que conhaque é conhaque e trabalho é trabalho, mas também que … amor é amor (mesmo que seja pela mulher do amigo, que este trai, meticulosa e regularmente), e que amor é música (mesmo que em forma “tecno” saindo dos auscultadores pelo meio dos ruídos da cidade), e que música é amor (em forma de Bach ou de recordação de mãe). .



risoletapedro@netcabo.pt
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