2005-08-03
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro


O DESPERTADOR

O meu despertador só é despertador às vezes. Raramente. Normalmente, é um desmancha-prazeres. É um despertador com dificuldade em despertar-me da dor porque, afinal, do que me acorda é desse imenso prazer que são os sonhos. E sempre foi assim. Raramente, da dor do pesadelo. É um interruptor, o meu desperta-sonhos. Por isso, quase não o uso.

Tenho uns amigos que usam o despertador durante o dia para se acordarem do estado de acordados. Os dias deles são tão difíceis, quais pesadelos, que de vez em quando usam o despertador para acordarem do pesadelo de dia. É um "disparatador".

Eu já quase não uso o despertador. Acordada, não preciso, a dormir, não quero. Prefiro acordar com a suave luz solar entrando no quarto e correndo uma cortina lenta e discreta no sonho, mas esperando que ele termine, não me retirando o prazer do desfecho. E colocando um letreiro: "O espectáculo continua dentro de algumas horas". Assim entro no dia, com as ora suaves, ora misteriosas, ora fascinantes recordações dos sonhos a iluminar-me esta outra realidade. O meu despertador é quase só um objecto decorativo.




risoletapedro@netcabo.pt
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