2005-07-27
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro


A MÚSICA QUE VEIO DO MAR

Foi há poucos meses. Alguém sabe alguma coisa dele? Quem era? Que lhe aconteceu?

Falo daquele homem sem nome, sem identidade, sem língua... apareceu na praia com a humidade do mar.

Não falava. Parecia não ter uma linguagem. Depois, um dia, desenhou um piano e quando posto perante ele, tocou como se nunca tivesse feito outra coisa. Era a sua linguagem: a música primordial que veio do mar.

De todo o mundo chegavam e-mails a dizerem que o conheciam, mas nunca o provaram.

Esta história não é contável. Muito menos recontável. Ele é a história. Ele é uma realidade ficção. Não é possível poetizá-la porque é poesia pura. É o desespero dos poetas, porque não se pode metaforizar a metáfora.

É música pura. É poesia pura. Tem a água, o silêncio, o piano, a partitura. Não é possível contar esta história, não é possível falar sobre ele, não é possível fazer um poema, não é possível, esta história. E no entanto, é uma evidência como as coisas essenciais. É concretizável.

Alguém sabe dizer-me o que lhe aconteceu? Está num hospital, numa prisão ou numa casa? Ou no mar? Continua ao piano? Que toca? Parece-me que o ouço. Parece-me que o vislumbro. Sinto que um dia se tornará real como a música que toca. E ouço.




risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/


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