APRESENTAÇÃO : DE CAMPO EM CAMPO




Trata-se de uma empolgante narrativa da guerra colonial, por alguém que a viveu de corpo e alma, do primeiro ao último momento. Futebolista nato, Bobo Keita cruzou-se no estrangeiro com o Presidente Kwame Nkrumah do Gana, do qual ouviu a mensagem que o preparou para os lances que iria efectuar no campo político. Respondendo ao apelo de Amílcar Cabral, foi com elegância e convicção que fez a sua preparação militar no ex-bloco comunista.

Calculista, cedo entendeu que os amuletos não passavam de meras fantasias e passou a interessar-se pelos conhecimentos e técnicas mais ligados à lógica. " Não ouves o zumbido da bala que te ceifa a vida porque a sua velocidade é superior à do som." Foi assim que o ex-futebolista se formou como militar no emaranhado de trepadeiras e lianas que formam o traiçoeiro solo da Guiné-Bissau. Lutou no Norte e no Leste, comeu ratos e macacos, bateu-se como um leão, foi ferido mas nunca perdeu o ânimo. Sobretudo depois da morte de Cabral. O domínio aéreo, outrora da exclusividade do exército português foi suplantado com o míssil Strella e o Grad. Com esses engenhos, o PAIGC começou o abate de caças portugueses nos céus da Guiné; a supremacia dos ares mudou de campo. Último Comandante a entrevistar-se com o Amílcar Cabral poucas horas antes da sua morte, Bobo Keita participou na captura do assassino e na libertação de Aristides Pereira. A morte do líder intensificou os campos de batalha até que no dia 25 de Abril de 1974, deu-se o golpe de estado em Portugal, antecedente lógico que permitiu o desanuviameneto tanto esperado. Membro da delegação do PAIGC que participou nas negociações de Londres e de Argel, Bobo Keita afirma que o ambiente entre as duas delegações não foram sempre tão cordiais como se pretendeu.

Para ilustrar um desses momentos de tensão, foi quando perante um impasse a delegação do PAIGC anunciou que ia regressar e retomar a guerra. O Dr Mário Soares teria elevado a voz frisando bem alto : "Guerra, guerra, vocês só pensam é na guerra...!". Com a assinatura dos Acordos de Argel os homens de Cabral regressaram efectivamente mas para preparar a fase de transição da retirada do exército português. Foi assim que no dia 13 de Outubro de 1974, Bobo Keita escoltava, com o devido brio e respeito, o último Governador Colonial da Guiné, o Brigadeiro Carlos Fabião que ia apanhar o avião que o conduziria a Portugal. A cena marcou o fim da guerra colonial na Guiné e também o fim desta empolgante narrativa.

O Autor

Nasci na Guiné-Bissau onde fiz os meus estudos primários, secundários e universitários. Em Novembro de 1972, estudantes travaram-se de razões com o General António de Spínola. Pus-me logo à cabeça do movimento. Do palácio do Governador fui conduzido à prisão da PIDE/DGS. Solto, criei a minha célula juvenil paralelamente às minhas actividades no seio de militantes do PAIGC que operavam em Bissau. Preso em Maio de 1973, fui condenado a 3 anos de trabalhos forçados. O "25 de Abril" restituiu-me a liberdade. Pude então dar corpo às minhas tendências poéticas e literárias. Participei na primeira Antologia dos poetas da Guiné-Bissau. Chefe do Departamento da Cultura da Juventude Africana Amílcar Cabral (1977-1980), Chefe dos Serviços da Migração (1978-1980), fui preso na sequência do golpe de estado do 14 de Novembro de 1980 na Guiné-Bissau. Apôs 36 meses de isolamento e 6 meses de trabalhos forçados, fui libertado. Com o pretexto de retomar os meus estudos universitários interrompidos, em 1983 abandonei o meu país e emigrei-me para a Suíça. Diplomado no Instituto dos Altos Estudos Especializados de Genebra, professor e Master Europeu em Mediação, trabalho como funcionário e faço parte da lista dos Mediadores Civis do Estado de Genebra. Sou fundamentalmente Combatente da Liberdade da Pátria.

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