2018-03-16, sexta-feira, 18h15::

Apresentação do livro "... da Descolonização - Do protonacionalismo ao pós-colonialismo", de Pedro Pezarat Correia






Pedro de Pezarat Correia

Nasceu no Porto em 1932. Curso liceal no Colégio Militar, licenciatura em ciências Militares na Escola do Exército, em 1954, doutoramento na Universidade de Coimbra com distinção e louvor em 2017. Major-general reformado. Seis comissões na guerra colonial (Índia, Moçambique, Angola e Guiné). Participante na movimentação militar que desembocou no 25 de Abril de 1974, integrou o Conselho da Revolução e, nessa qualidade, comandou a Região Militar do Sul. Na FEUC fundou e lecionou a cadeira de Geopolítica e Geoestratégia. Conferencista no IDN, UAL, e outros institutos superiores militares e civis. Autor de Centuriões ou Pretorianos; Descolonização de Angola – A Joia da Coroa do Império Português; Questionar Abril...; Angola – Do Alvor a Lusaka; Manual de Geopolítica e Geoestratégia; Guerra e Sociedade e coautor em muitas dezenas e livros e trabalhos sobre geopolítica e geoestratégia, estratégia e conflitos, 25 de Abril, guerra colonial e descolonização.

Colonização e descolonização, duas faces de uma mesma moeda que é o colonialismo. Descolonização cujo protagonista foi o colonizado começa como resposta do colonizado à colonização, a colonização encerra-se como resultado da descolonização. A descolonização das colónias africanas de Portugal inscreveu-se nesta lógica. A ditadura conduziu à guerra colonial que determinou a sua queda e a entrada de Portugal no processo de descolonização. Angola, caso paradigmático da colonização e da descolonização das colónias portuguesas, porque era a “joia da coroa” do império português em África e se tornou o “rubicão da descolonização”. Sem o 25 de Abril de 1974 Portugal teria falhado o seu encontro com a descolonização, sem a descolonização Portugal teria falhado o seu encontro com a liberdade.

Lisboa, 11 dez 2017 (Lusa) – Portugal apenas participa na descolonização em África devido ao 25 de Abril mas o processo foi desencadeado previamente através da resistência do colonizado, sustenta o general Pedro de Pezarat Correia, autor de um recente livro sobre o tema.

“Portugal entra no processo de descolonização, não inicia o processo de descolonização. A tendência que ainda existe em Portugal é de considerar que a descolonização se seguiu à guerra colonial, ao 25 de Abril, à transferência do poder. É um erro. A transferência do poder foi uma fase já muito avançada do processo de descolonização”, referiu o general na reforma em declarações à Lusa, numa alusão ao seu mais recente livro “…. da descolonização. Do protonacionalismo ao pós-colonialismo”, que é lançado esta terça-feira em Lisboa.
Um trabalho de fôlego, com mais de 800 páginas e produto de uma tese de doutoramento na sequência de prolongado trabalho de investigação.
“Também baseado na minha vivência pessoal” e com alguns capítulos inéditos, destaca.
Neste contributo teórico, o ex-Conselheiro da Revolução, 85 anos, com seis comissões na guerra colonial (Índia, Moçambique, Angola e Guiné) e participante no 25 de Abril de 1974, procura “desmistificar alguns mitos” relacionados com a “tendência natural” do antigo colonizador que se sentia no “centro do mundo”, que “colonizou e depois descolonizou”.
Assim, recorda que os africanos se opuseram “desde o início”, a partir de finais do século XIX, à instalação das estruturas coloniais, e serão eles a desencadear “a sua dinâmica anti-colonizadora”, ou de descolonização, depois completada pelo desmontar de toda a estrutura colonial.
“O processo da descolonização é este, no qual o colonizador só participa depois de reconhecer o direito dos povos à independência. Até aí, a potência colonial procura opor-se e contrariar o processo de descolonização”, assinala.
“Só após o 25 de Abril e particularmente com a lei 7/74 de 27 de julho de 1974, é que Portugal começa a aceitar participar no processo de descolonização. E para negociar a transferência do poder”, frisa com particular ênfase.
Nesta perspetiva, a guerra colonial terá sido a descolonização conduzida pelo colonizado, reafirma.

“Nessa altura Portugal ainda não estava obviamente envolvido no processo de descolonização. E por isso termino [o livro], e com uma certa acutilância, dizendo que foi o 25 de Abril que permitiu que Portugal entrasse no processo de descolonização”.

A guerra colonial nas três principais colónias africanas portuguesas (1961-1974), e o 25 de Abril, que põe termo ao regime marcelista, serão assim dois acontecimentos indissociáveis desse processo.

“Quando refiro que sem o 25 de Abril Portugal teria perdido o seu encontro com a descolonização, não é uma forma de retórica. É uma realidade. Porque a independência verificar-se-ia sempre, noutras condições. Provavelmente com Portugal derrotado militarmente no terreno. A colonização far-se-ia sempre, mas far-se-ia sem a colaboração de Portugal. O 25 de Abril permitiu que Portugal ainda pudesse colaborar na parte final da descolonização”.

E será neste contexto que o militar e académico faz alusão a um particular paradoxo de que enferma este processo: ter sido a ditadura a desencadear a guerra para manter o sistema colonial, mas ter sido a guerra colonial que introduziu em Portugal o processo de descolonização.

Para Pezarat Correia, esta aparente contradição pode constituir a síntese deste trabalho de investigação, com a segunda parte do livro (páginas 383-796) intitulada ‘Transferência do poder em Angola’ e exclusivamente dedicada ao complexo processo que decorreu no atual país da África ocidental, definido pelo autor como “o Rubicão da descolonização”.

“Sem a descolonização Portugal teria falhado o seu encontro com a liberdade. É essa frase final que tenho nas minhas conclusões, que como digo não é um ‘slogan’, não é uma forma de retórica, é um resumo em minha opinião muito objetivo de toda esta realidade”, acrescenta.
(…)
PCR // EL

Lusa/Fim


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